terça-feira, 3 de julho de 2012

Potencial candidato republicano à presidência dos EUA destaca a importância da Liberdade Religiosa


O que se segue é uma transcrição do discurso do ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney chamado “Faith in America” (Fé na América), proferida na Biblioteca Presidencial George Bush em College Station, Texas. Romney falou sobre a sua visão a respeito da liberdade e da tolerância religiosa, e como a fé iria permear a sua presidência. O discurso começa com Romney falando com o ex-presidente George H. W. Bush, que o apresentou.

Romney: Obrigado, Senhor Presidente, pela sua gentil apresentação. É uma honra estar aqui hoje. Este é um lugar inspirador por causa sua e da primeira-dama, e por causa do filme exibido na biblioteca presidencial. 

Para quem ainda não viu, ele mostra o presidente quando ainda era um jovem piloto, abatido durante a Segunda Guerra Mundial, sendo resgatado de seu bote salva-vidas pela tripulação de um submarino americano. É uma lembrança comovente de quando os Estados Unidos enfrentaram desafios e perigos, e os americanos que estavam prontos e dispostos a arriscar suas próprias vidas para defender a liberdade e preservar a nossa nação. Estamos em dívida com você. Obrigado, Senhor Presidente.

Senhor Presidente, a sua geração cumpriu sua obrigação, primeiro derrotou o fascismo e depois venceu a União Soviética. Você nos deixaram, seus filhos, uma América livre e forte. É por isso que chamamos a sua a grande geração. E agora é a vez da minha geração. O modo que responderemos aos desafios de hoje irá definir nossa geração. E vai determinar que tipo de América vamos deixar para nossos filhos, e seus filhos.

A América enfrenta uma nova geração de desafios. O islamismo radical e violento procura nos destruir. Uma China emergente se esforça para superar a nossa liderança econômica. E estamos preocupados em nossa própria casa pelo excesso de gastos públicos, uso excessivo de petróleo estrangeiro, bem como a dissolução da família.

Durante o ano passado, embarcamos em um debate nacional sobre a melhor forma de preservar a liderança americana. Hoje, quero abordar um tema que acredito seja fundamental para a grandeza da América: a nossa liberdade religiosa. Eu também irei oferecer perspectivas sobre como a minha própria fé iria influenciar a minha presidência, se eu fosse eleito.


Alguns podem acreditar que a religião não é uma questão a ser seriamente considerada no contexto das sérias ameaças que enfrentamos. Se assim for, eles estão em desacordo com os fundadores da nossa nação, pois, quando nossa nação enfrentou um grande perigo, buscou as bênçãos do Criador. E mais, eles descobriram a conexão essencial entre a sobrevivência de uma nação livre e à proteção da liberdade religiosa. Nas palavras de John Adams: “Não existe um governo armado com potência capaz de competir com as desenfreadas paixões humanas pela moralidade e religião … Nossa constituição foi feita para um povo moral e religioso”.

A liberdade exige a religião, assim como religião exige a liberdade. A liberdade abre as janelas da alma, para que o homem descubra suas crenças mais profundas e comungue com Deus. A liberdade e a religião se apoiam mutualmente, ou perecem sozinhos.

Dada a nossa grande tradição de liberdade e de tolerância religiosa, alguns se perguntam se é importante considerar a religião de um candidato. Acredito que sim. E vou respondê-las hoje.
Quase 50 anos atrás outro candidato de Massachusetts explicou que ele era um americano concorrendo à presidência, e não um católico concorrendo à presidência. Assim como ele, eu sou um americano correndo a presidência. Não defino minha candidatura pela minha religião. Uma pessoa não deve ser eleita por causa de sua fé nem deve ser rejeitada por causa de sua fé.

Deixe-me assegurar-vos que nenhuma autoridade da minha Igreja, ou de qualquer outra igreja me influenciou nesse assunto, e nunca vai exercer influência nas minhas decisões na presidência. Sua autoridade se restringe aos assuntos eclesiásticos, e acaba onde os assuntos da nação começam.
Como governador, eu tentei ser o melhor, dentro da minha capacidade, servindo a lei e respondendo à Constituição. Eu não confundi os ensinamentos particulares da minha igreja com as obrigações do meu cargo e da Constituição – e, claro, eu não irei fazê-lo como presidente. Eu não irei colocar nenhuma doutrina de qualquer igreja acima dos deveres do cargo e da autoridade soberana da lei.

Quando jovem Lincoln descreveu o que chamou de “religião politica” americana – o compromisso de defender o Estado de Direito e a Constituição. Quando eu colocar a minha mão sobre a Bíblia e fizer o juramento de posse, aquele juramento se tornará a minha mais alta promessa a Deus. Se eu tiver a sorte de me tornar seu presidente, não servirei nenhuma religião, nenhum grupo, nenhuma causa, e nenhum interesse de um grupo em particular. Um presidente deve servir apenas a causa comum do povo dos Estados Unidos.

Alguns acreditam que esse compromisso não é suficiente. Eles preferem que eu simplesmente me distancie da minha religião, dizem que é mais uma tradição do que a minha convicção pessoal, ou me pedem para que eu negue um ou outro de seus preceitos. O que eu não vou fazer. Acredito na minha fé mórmon e me esforço em vivê-la. Minha fé é a fé de meus pais – e eu serei verdadeiro para com eles e para com minhas crenças.

Alguns acreditam que tal confissão da minha fé vai afundar minha candidatura. Se eles estiverem certos, que assim seja. Mas eu acho que eles subestimam o povo americano. Os americanos não respeitam os crentes de conveniência. Os americanos desprezam aqueles que abandonam suas crenças, até mesmo para ganhar o mundo.

Há uma questão fundamental sobre o qual eu fui muitas vezes questionado. O que eu acredito a respeito de Jesus Cristo? Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Salvador da humanidade. As crenças da minha igreja a respeito de Cristo não podem ser as mesmas de outras fés. Cada religião tem sua própria doutrina e história. Estas não devem ser bases para a crítica, mas sim um teste para a nossa tolerância. A tolerância religiosa seria um princípio sem valor se fosse reservado apenas para as religiões com as quais concordamos.

Alguns desejam que um candidato presidencial descreva e explique as doutrinas distintivas de sua igreja. Fazê-lo seria permitir um tipo de teste religioso proibido pelos pais fundadores na Constituição. Nenhum candidato deve se tornar o porta-voz de sua fé. Porque, se ele se tornar presidente, ele receberá as orações do povo de todas as fés.

Acredito que toda a fé procura fazer com que seus seguidores se aproximem de Deus. E cada fé que conheci, possuem características que eu gostaria que estivesse presente na minha: Eu gosto muito da significativa cerimônia da missa católica, da acessibilidade a Deus das orações dos evangélicos, da ternura de espírito dos pentecostais, da independência e confiança dos luteranos, das antigas tradições dos judeus, inalterada ao longo do tempo, e o compromisso de frequente oração dos muçulmanos. A medida que viajo pelo país e vejo nossas vilas e cidades, sempre sou comovido pelas muitas casas de culto com seus campanários, todas apontando para o céu, nos lembrando da fonte das bênçãos da vida.

É importante reconhecer que, embora as diferenças na teologia existam entre as igrejas nos Estados Unidos, nós compartilhamos uma crença comum de convicções morais. Onde os assuntos de nosso país estão centrados, normalmente são sobre os grandes princípios morais que reúnem todos nós em um curso comum. Se era a causa da abolição, ou dos direitos civis, ou do próprio direito à vida, nenhum movimento de consciência pode ter sucesso nos Estados Unidos se não dialogarem com as convicções religiosas das pessoas.

Nós separamos a igreja do estado neste país por boas razões. Nenhuma religião deve interferir nos assuntos do Estado e nem o Estado deve interferir com a prática da livre religião. Mas nos últimos anos, a noção de separação entre Igreja e Estado tem sido considerada por alguns muito além do seu significado original. Eles procuram retirar do domínio público qualquer reconhecimento de Deus. A religião é vista meramente como um assunto privado sem lugar na vida pública. É como se eles tivessem a intenção de estabelecer uma nova religião na América – a religião do secularismo. Eles estão errados.

Os fundadores proibiram o estabelecimento de uma religião estatal, mas não eliminaram a religião da praça pública. Somos uma nação “Sob Deus, e em Deus, em que nós realmente confiamos”.
Devemos reconhecer o Criador como o fizeram os Fundadores – em cerimônia e palavra. Ele deve permanecer na nossa moeda, no nosso compromisso, no ensino de nossa história, e durante a temporada de férias, presépios e menorahs devem ser bem-vindos em nossos lugares públicos. Nossa grandeza não iria durar muito sem juízes que respeitam o fundamento da fé sobre a qual repousa a nossa constituição. Vou ter o cuidado de separar os assuntos do governo a partir de qualquer religião, mas não vou nos separar do “Deus que nos deu a liberdade”.

Nem vou nos separar de nosso patrimônio religioso. Talvez a questão mais importante que devemos fazer a uma pessoa de fé que busca um cargo político, é esta: será que ele compartilha os  valores americanos: a igualdade da espécie humana, a obrigação de servir um ao outro, e um firme compromisso com a liberdade?

Eles não são exclusivos de nenhuma denominação. Eles pertencem à grande herança moral que temos em comum. Eles são a terra firme em que os americanos de religiões diferentes se encontram e se levantam como uma nação, unida.

Nós acreditamos que cada ser humano é um filho de Deus – somos todos parte da família humana. A convicção do valor inerente e inalienável de toda a vida ainda é a proposição mais revolucionária e avançada da política. John Adams diz que fomos “colocados no mundo como iguais”.
A consequência final de nossa humanidade comum é a nossa responsabilidade uns para os outros, para nossos compatriotas americanos acima de tudo, mas também para cada filho de Deus. É uma obrigação que é cumprida pelos norte-americanos todos os dias, aqui e em todo o mundo, sem levar em conta credo, raça ou nacionalidade.

Os americanos reconhecem que a liberdade é um dom de Deus, não uma indulgência do governo. Nenhum povo na história do mundo se sacrificou tanto pela liberdade. A vida de centenas de milhares de filhos e filhas da América foram sacrificadas durante o século passado, para preservar a liberdade, para nós e para os povos em todo o mundo. Os Estados Unidos da América não se apropriou de nada nas terríveis guerras que travou no século passado – nenhuma terra da Alemanha ou do Japão ou da Coréia; nenhum tesouro, nenhum juramento de fidelidade. A resolução da América na defesa da liberdade tem sido testada uma e outra vez. Nunca excitou, nem nunca deve fazê-lo. Os Estados Unidos da América nunca devem vacilar em hastear bem alto a bandeira da liberdade.

Esses valores americanos, esta grande herança moral, é compartilhada e vivida em minha religião, como nas suas. Ensinaram-me em minha casa como honrar a Deus e amar o próximo. Eu vi meu pai marchar com Martin Luther King. Eu vi os meus pais oferecerem cuidado compassivo para os outros, de forma pessoal para as pessoas próximas, e liderando movimentos de voluntariado nacional. Eu sou movido pelas palavras do Senhor: “Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me."

Minha fé está fundamentada sobre essas verdades. Você pode testemunhá-las em Ann e no meu casamento e em nossa família. Estamos muito longe de ser perfeitos e temos certeza que tropeçamos ao longo do caminho, mas as nossas aspirações, nossos valores, são os mesmos que os de outras religiões que estão edificadas nesta base comum. E essas convicções certamente irão influenciar minha presidência.

As gerações dos norte-americanos de hoje sempre conheceram a liberdade religiosa. Talvez nós nos esquecemos do longo e árduo caminho que os fundadores dessa nação percorreram para alcançá-la. Eles vieram aqui da Inglaterra em busca da liberdade religiosa. Mas ao encontra-la para si mesmos, eles a princípio a negaram aos outros. Devido às suas diversas crenças, Ann Hutchinson foi exilada da Baia de Massachusetts, Roger Williams foi banido e Rhode Island, e dois séculos mais tarde, Brigham Young partiu para o oeste. Os americanos não foram capazes de cumprir seu compromisso com a sua própria fé e aprender a aceitar as convicções dos outros com os diferentes credos. Nisto, eles eram muito parecidos com as nações européias que haviam deixado.

Foi na Filadélfia que os pais fundadores definiram uma visão revolucionária da liberdade, baseada em verdades auto-evidentes sobre a igualdade de todos, e os direitos inalienáveis ​​com os quais cada um é dotado por seu Criador.

Nós prezamos esses sagrados direitos, e os adicionamos na nossa ordem constitucional. Acima de tudo vamos proteger a liberdade religiosa, não como uma questão política, mas como uma questão de direito. Não haverá nenhuma igreja oficial, do mesmo modo que garantiremos o livre exercício de nossa religião.

Eu não tenho certeza que apreciamos plenamente as profundas implicações da nossa tradição de liberdade religiosa. Tenho visitado muitas das magníficas catedrais na Europa. Eles são tão inspiradoras, tão grandes, mas tão vazias. Levantadas ao longo de gerações, muito tempo atrás, essas catedrais são agora um pano de fundo de um cartão postal para sociedades muito ocupadas ou demasiadamente “iluminadas” para se aventurarem em seu interior e ajoelharem-se em oração. O estabelecimento das religiões de estado na Europa não ajudou nem um pouco às igrejas da Europa. E embora você encontre muitas pessoas fervorosas lá, as próprias igrejas parecem estar definhando.

Infinitamente pior é o outro extremo, o credo da conversão pela conquista: a Jihad violenta, o assassinato como forma de martírio, matando cristãos, judeus e muçulmanos do mesmo modo. Estes radicais islâmicos fazem sua pregação não pela razão ou exemplo, mas pela coerção das mentes e pelo derramamento de sangue. Não enfrentamos perigo maior hoje do que a tirania teocrática, e o sofrimento sem limites que esses estados e grupos podem infligir se dermos a eles uma chance.
A diversidade da nossa expressão cultural, e do ritmo de nosso diálogo religioso, tem mantido a América na vanguarda das nações civilizadas, mesmo quando outros consideram a liberdade religiosa como algo a ser destruído.

Em um mundo assim, podemos ser profundamente gratos que nós vivemos em uma terra onde a razão e a religião são amigos e aliados na causa da liberdade, unidas contra os males e perigos do dia. E você pode estar certo disso: Qualquer um que acredite na liberdade religiosa, qualquer pessoa que tenha se ajoelhado em oração ao Todo-Poderoso, tem um amigo e aliado em mim. E assim é para centenas de milhões de nossos compatriotas: Não defendemos uma única estirpe religiosa – antes, nos congratulamos com a sinfonia de fé da nossa nação.

Não nos esquecemos dos primeiros dias do Primeiro Congresso Continental de Filadélfia, durante o outono de 1774. Com a cidade de Boston ocupada pelas tropas britânicas, havia rumores de hostilidades e temores de uma guerra iminente. Neste momento de perigo, alguém sugeriu que eles orassem. Mas houve objeções. Eles estavam muito divididos em suas crenças religiosas, episcopais e Quakers, anabatistas e congregacionais, presbiterianos e católicos.

Então Sam Adams levantou-se, e disse que queria ouvir uma oração de qualquer pessoa cheia de piedade e de bom caráter, desde que fosse um patriota. E assim, juntos eles oraram, e juntos eles combateram e, juntos, pela graça de Deus, eles fundaram esta grande nação.
Nesse mesmo espírito, vamos dar graças ao divino autor da liberdade. E juntos, vamos orar para que esta terra sempre possa ser abençoada com a luz sagrada da liberdade.

Deus abençoe esta grande terra, os Estados Unidos da América.