sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Integrantes da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa Tomam Posse na OAB SP




Em uma cerimônia marcada por muita emoção, tomaram posse os novos integrandes da Comissão de Direitos e Liberdade Religiosa da OAB SP, nesta segunda-feira (4/10), às 19 horas, no salão nobre.

No discurso de posse, a nova presidente, Damaris Dias Moura Kuo, destacou o “compromisso com a lei e a liberdade, compromisso com o próximo” firmados pela Comissão de Direitos e Liberdade Religiosa. A defesa deste direito fundamental é "combate, luta e paixão pelas boas causas”, prerrogativa que deve ser observada “para todos, ou não será para ninguém”, completou Damaris.

A pluralidade aceita nesta cerimônia e respeitada pela Ordem seguirá sendo bem defendida pelos novos integrantes e a presidente da Comissão, ressaltou o presidente Luiz Flávio Borges D'Urso. “Damaris está a serviço da OAB, a serviço da advocacia, a serviço desta bandeira maior de liberdade religiosa”, o que é de relevante importância ao considerar-se “hoje no mundo lugares tão avançados como a França, que desfralda a bandeira da liberdade, da igualdade, da fraternidade e acaba de promulgar uma lei proibindo a burca”, o que para D'Urso fez a “intolerância ser revestida da legalidade”.

Lembrando tratar-se de uma baiana de nascimento, de Vitória da Conquista, “mas que integra com muito orgulho as fileiras da advocacia paulista”, Damaris Dias Moura Kuo enfatizou a importância de outras unidades da Ordem formarem comissões para a defesa e promoção da liberdade religiosa e que o exemplo da OAB-SP será “balizamento para as demais seccionais do país”.

Ao transmitir o cargo, Hédio Silva Júnior, ex-conselheiro seccional e ex-secretário estadual de Justiça e Cidadania, agradeceu à presidência da Ordem e desejou bom trabalho à sucessora, destacando a “estatura técnica e pessoal” de Damaris, salientando que sua presença agrega valor a causa defendida. Para Hédio Silva Júnior, a Comissão de Direitos e Liberdade Religiosa segue cumprindo a missão para a qual fora criada, “a tutela dos direitos humanos, a proteção dos direitos humanos, não há direitos humanos sem liberdades publicas, sem liberdade religiosa”, destacou.


Fonte: http://www.oabsp.org.br/noticias/2010/10/07/6478/

Direito e Religião no Brasil



*Roberto Arriada Lorea é Juíz de Direito no Rio Grande do Sul e um convicto defensor do Estado Laico. Nesse artigo ele analisa a inserção do tema da liberdade religiosa na plataforma dos partidos políticos, resgatando os acontecimentos da eleição presidencial de 2010.




O debate sobre influência religiosa na política fortalece a democracia. No Brasil, evitando posicionar-se sobre os limites da liberdade religiosa, os candidatos preferem cortejar eleitores cujo voto está condicionado pela fé. Enquanto isso, confunde-se a liberdade de viver segundo sua própria crença com a liberdade de impor sua crença ao outro.

Sobre o aborto, por exemplo, o presidente Lula afirmou que nada faria contra a fé cristã que recebeu de sua mãe, violando a liberdade de milhões de brasileiros que não compartilham sua religião, mas se viram súditos da fé presidencial. No Congresso Nacional, o debate sobre a descriminalização do aborto se deu à luz da Bíblia, não da Constituição. No STF, em audiência pública sobre anencefalia, viram-se líderes religiosos subsidiando a decisão dos julgadores, ignorando-se que convicções religiosas não podem ser impostas pelo Judiciário.

Estima-se que, até o final do século, a religião católica (que perde 10 mil fiéis/dia na América Latina) deixará de ser majoritária entre a população brasileira. Preparando o novo cenário, tramita no Congresso a “Lei geral das religiões”, cujo texto não é conhecido pelos brasileiros, os quais ignoram vários atentados à laicidade do Estado. Em MG e no RS, por exemplo, os Tribunais já decidiram pela inconstitucionalidade de leis que impunham a leitura da Bíblia na escola pública. Em SP, o então governador Serra vetou o projeto “Deus na escola”.

Para enfrentar a complexidade desse tema, não basta boa vontade. São necessários profissionais com formação nessa área do conhecimento. No centenário da Faculdade de Direito de Recife (1927), Methodio Maranhão propunha a disciplina Direito e religião. É preciso estimular esse debate. Um bom exemplo vem da Faculdade de Direito da Brigham Young University, nos EUA, cujo Centro Internacional de Estudos em Direito e Religião, em sua 17ª Conferência anual, reuniu professores, religiosos, ministros de Estado, congressistas, advogados e juízes de 40 países para debater esse tema.

É fundamental contarmos com profissionais preparados para enfrentar a intolerância religiosa, manifesta no rechaço a modos de vida que não se submetem à fé do opressor. É preciso que o Estado assegure a neutralidade do espaço público em matéria religiosa, garantindo que todos os cidadãos sejam igualmente respeitados, independentemente de sua crença ou ausência dela.
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*Juiz de Direito, coordenador do Núcleo de Estudos em Direito e Religião na Escola Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul.
Fonte: ZH online

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Frei Betto: Dilma e a fé Cristã

A Folha de S. Paulo publicou no dia 10/10/10 o artigo que segue de Frei Betto no Tendências e Debates. Lamentavelmente o autor apresenta preconceito contra um grupo social específico sobre o qual falo no post anterior. A liberdade religiosa definitivamente está entrando na agenda política.

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte.

Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de “marxista ateia”.
Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória -diria, terrorista- acusar Dilma Rousseff de “abortista” ou contrária aos princípios evangélicos.

Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade. Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.

Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que “a árvore se conhece pelos frutos”, como acentua o Evangelho. É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto…

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: “Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes…” (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

FREI BETTO, frade dominicano, é assessor de movimentos sociais e escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros. Foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004, governo Lula).

A liberdade religiosa e o direito de não crer

Frei Betto comete deslize em artigo na Folha de São Paulo publicado em 10/10/10. Enviei a carta abaixo à Folha de São Paulo. Espero que seja publicada.

O direito de não ter crença alguma está protegido pela liberdade religiosa tanto quanto o daqueles que professam uma crença, seja ela qual for.

Com todo respeito à biografia de Frei Betto, ele cometeu um equívoco imperdoável, pois todos os cidadãos são iguais perante a lei, inclusive os ateus.

Chamar de ateísta militante quem praticou tortura na época da ditadura é apenas a revelação de preconceito contra esse grupo social. Recentemente um famoso apresentador de televisão cometeu o mesmo equívoco associando a criminalidade a quem não tem Deus no coração, fezendo referências explícitas aos ateus.

Na qualidade de defensor da liberdade religiosa e da plena cidadania, preferências políticas à parte, solidarizo-me com os ateus e lembro ao Frei Betto que na Idade Média, um segmento religioso predominante, inclusive no Brasil, também cometeu violações a templos vivos de Deus. Foram violações institucionalizadas e seus praticantes não eram ateus.

A possibilidade de violência contra o semelhante é inerente ao ser humano. Muitas vezes tal ocorrência se dá sob a pseudo capa do nome Deus, ou da religião, o que é lamentável.

A defesa da liberdade religiosa deve incluir a todos, ou então não será para ninguém. Deixem os ateus em paz. Eles são cidadãos conscientes de seu papel social. Tenho vários amigos ateus, a maioria deles têm um senso de ética tão elevado, capaz de fazer inveja a muitos religiosos.

Frei Betto foi infeliz ao chamar os torturadores da época da ditadura de ateus militantes.

Samuel Gomes de Lima
Presidente da ABLIRC
Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania